quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Semelhanças entre Brasil e África? Eu e o brilhante Clovis Rossi.


No dia 05 deste mês a Coletiva.net publicou um artigo desse escriba onde faço uma reflexão sobre o que o título deste post propõe.
Para minha honra e orgulho, hoje, leio um artigo que aborda a mesma linha de reflexão na Folha de São Paulo de hoje.
Do brilhante Clóvis Rossi.
Legal saber dessa modesta e aparente convergência.
Seguem , primeiro o meu texto da Coletiva e, depois o do nobre Clóvis Rossi.
Confiram ai 

Semelhanças entre Brasil e África?

Por Gil Kurtz, para Coletiva.net
 05/02/2018 18:11
Sim, o continente africano e o nosso País têm muitas semelhanças, desde aspectos culturais herdados do período colonial como também aspectos geográficos. Podemos citar as extensas áreas florestais: nós, a Floresta Amazônia; lá, a Floresta Equatorial do Congo. Os maiores rios do mundo, também, é algo comum: Amazonas e no continente o Congo.
Você deve estar pensando: esse espaço é voltado para temas de comunicação, propaganda e branding e o autor vem com semelhanças geográficas entre Brasil e África? Por favor, continue lendo e chegaremos lá.
Começo falando dos Gupta, uma família multimilionária indiana que "manda" na África do Sul e é suspeita de ter explorado sua amizade com o presidente Zuma para sonegar impostos, influenciar na nomeação de ministros, e claro, garantir contratos com o governo. Não, não estou me referindo a uma família baiana. Aliás, essa é outra semelhança entre nosso País e o continente africano. Tem mais outra: em junho do ano passado, o site The Daily Maverick noticiou que a família e dirigentes das empresas trocaram centenas de e-mails entre si e que demonstravam o quanto estes se beneficiavam das relações com o governo sul-africano. Até agora, ainda não surgiram as planilhas com apelidos, mas devem surgir logo.
Enquanto isso, o grupo empresarial já paga por suas práticas que rasgam as mais elementares regras de compliance. Os quatro maiores bancos da África do Sul encerraram as contas de empresas controladas pelos Gupta.
Dito isso, quem já foi devidamente penalizado por práticas pouco contemporâneas tanto da família quanto do governo? A McKinsey, a maior consultoria do mundo.
Como foi noticiado, no início desse mês, o braço sul-africano da Coca-Cola veio a público comunicar que deixou de trabalhar com a referida consultoria fruto de a mesma estar envolvida num escândalo político naquele país. A maior fabricante mundial de refrigerantes e sua engarrafadora não irão mais contratar a consultoria até que sejam concluídas as investigações sobre possível corrupção.
Portanto, caro leitor e leitora, o mundo mudou. Mesmo que a empresa não tenha cometido nenhum "erro" com a empresa de refrigerantes, ela cometeu um maior: esqueceu que imagem e reputação são fundamentos básicos no novo mundo monitorado pelas plataformas digitais e regras de compliance simples, mas inegociáveis. Dá pra imaginar as empresas do grupo Gupta sem conta bancária e uma renomada empresa de consultoria fazendo vistas grossas para práticas antiéticas de seus clientes? Não deu outra, a míope pagou rápido por essas práticas: perdeu a Coca-Cola. Certamente no século XX as coisas teriam um "jeitinho". Mas agora não. Independentemente do tamanho de sua empresa ou marca suas práticas éticas serão consideradas normais, o contrário poderá levar sua empresa e marca ao lixo corporativo.
Agora confiram o do Clóvis.
Impressionam as coincidências na história contemporânea de Brasil e África do Sul.
A mais recente: os "Falcões", o grupo anticorrupção da polícia sul-africana, fez uma incursão ao amanhecer desta quarta-feira (14) na residência dos irmãos Gupta, milionários de origem indiana, suspeitos de corrupção.
É a repetição de batidas semelhantes feitas pela PF brasileira no curso da Operação Lava Jato.
Os Gupta estão para a África do Sul como a Odebrecht está para o Brasil e a América Latina: uma usina de "captura do Estado" para lucro privado —expressão que se tornou corrente no país africano.
Foi precisamente essa promiscuidade entre os Gupta e o presidente Jacob Zuma que levou o governante ao ocaso consumado com a renúncia nesta quarta-feira (14), assim como foi a associação Lula-Odebrecht que causou a condenação do ex-presidente.
O ocaso de Zuma é mais eloquente porque forçado por seu próprio partido —o histórico Congresso Nacional Africano— que pediu seu mandato de volta.
Zuma ainda ameaçou resistir, mas acabou se rendendo, ante a iminência de uma moção de desconfiança que seria votada nesta quinta-feira (15).
Há pano de fundo igualmente coincidente e mais emblemático: Brasil e África do Sul compartilham uma história recente de sonhos adiados.
Os do Brasil foram recorrentes: a eleição de Tancredo Neves, que marca o fim da ditadura; o Plano Cruzado que pôs fim (efemeramente) ao terror da inflação: o Plano Real, que de fato a derrotou; a eleição de Lula e seu mantra de que a esperança vencera o medo.
Já na África do Sul, o fim do apartheid, em 1994, parecia a certidão de nascimento para um sonho multicolorido: uma pátria democrática para todos, negros, brancos, mestiços, indianos (importante minoria), e com um nível de desenvolvimento superior ao de todos os vizinhos.
Parte desse sonho virou realidade: ao contrário da esmagadora maioria dos países africanos, a África do Sul não foi devastada por guerras tribais e nem se tornou uma ditadura.
O que falhou foi pôr fim também ao apartheid econômico e social de que sofrem até hoje os negros. Exemplo eloquente: nos dados estatísticos comparativos coletados pelo governo alemão para a cúpula-2017 do G20, a África do Sul aparece como o país mais desigual entre todos os 20. Os 10% mais ricos abocanham impressionantes 51% da riqueza nacional, deixando apenas 1% para os 10% mais pobres.
É bom dizer que o Brasil aparece logo a seguir no infame torneio de concentração de renda.
As coincidências prosseguem na análise que faz das causas da estagnação sul-africana a professora Cheryl Hendricks, do Departamento de Política e Estudos Internacionais da Universidade de Johannesburgo:
"Decadência da elite em meio à pobreza; acumulação de riqueza por meio da proximidade com recursos do Estado e da captura do Estado; desafios na prestação de serviços e incapacidade de prover segurança humana".
Aposto que você já leu algo muito parecido sobre o Brasil. E também pensou algo como o que disse Ace Magashule, secretário-geral do CNA sobre o caso Zuma: "O país necessita uma esperança renovada".

Trilha:
We Are The World
https://www.youtube.com/watch?v=Zi0RpNSELas

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